25 de julho de 2009

Meu pai, minha infância, nossa loja

Morei até os sete anos no sobrad0 da Loja (Casa Bertozzi). Uma das brincadeiras que eu mais gostava era quando minhas primas vinham nos visitar e o pai nos deixava brincar na loja, fechada é claro.Experimentávamos todos os calçados infantis.
Quando nos mudamos para a casa no morro, levava os cadernos para a loja e lá passava as tardes. Na hora do lanche, meu pai me dava dinheiro para comprar um sanduíche de pão de padaria com mortadela, em casa era só pão feito pela mãe.
Quando não tinha movimento na loja, brincava com a atendente. Uma dizia uma marca de calçado, algumas vezes de trás pra frente, e a outra tinha que adivinhar onde estava.
Lembro também, lá pelos meus cinco anos, que a Lorena, balconista na época, separava cartolina que vinha dentro das camisas, me colocava num banquinho para alcançar o balcão e então eu desenhava, sempre a mesma figura: morro, sol, casinha, chaminé, fumacinha, lago...
Quando pequena tinha muito receio do meu pai. Apesar de nunca ter me batido, ele era muito fechado, brabo, apesar de que quando xingava, dizia que era para me ensinar o certo, o justo, o correto. Sempre tive muito orgulho do meu pai! Promoveu-se sozinho, cresceu, pois só tinha olhos para o trabalho. Não tinha vícios, cigarro, bebida, etc..., apesar de nos contar que quando jovem havia fumado por um tempo e nos contava com orgulho que resolveu parar de fumar e conseguiu.
Meu pai se preocupava muito com a saúde.Procurava se alimentar bem. Quando alguém dava uma receita de remédio ou qualquer coisa que fazia bem, ele seguia rigidamente. Por exemplo, teve época que todos os dias de manhã tomava um ovo de galinha cru, em outra, vivia com alho no bolso e seguidamente descascava um e mastigava( nesta época eu não chegava muito perto dele...)
Lembro também que em nossa cidade tinha dois partidos políticos, sendo que meu pai era simpatizante do partido da oposição.Então em nossa loja quando só entravam para comprar as pessoas do seu partido. Ele sempre nos dizia que quem era vendedor não podia ter partido político, ou seja, não dizer de que partido era.
De vez em quando, meu pai viajava até Novo Hamburgo para comprar calçados, voltava com o carro carregado de caixas. Era sempre uma preocupação lá em casa, pois ele não era muito "firme na direção". Certa vez quando ele estava voltando de viagem estava o maior temporal e ele não conseguia nem estacionar, ficou então dando voltas pela cidade até o temporal passar.
Era muito amigo do Sr. Guerino Sangalli. Falava também dos amigos da época do "tiro" (era como se fosse uma guarnição do exército que funcionava no prédio da Polícia Civil).
Contava histórias de quando ele, mais o Aresto (Aristides Marini) e o Dr. Pedro Lahude iam até Muçum para namorar (as futuras esposas dos mesmos eram de lá).
Minha mãe, suas irmãs, e seus pais cuidavam de um hotel com salão bailde na Barra do Guaporé, e minha mãe nos contou que quando ele ia visitá-la no trabalho, "sentava em três cadeiras": a sua e mais duas, uma para apoiar cada perna. Reinoldo tinha esse hábito de se esparramar aonde sentava, podia ser na rede, sofá, cadeiras.
Lá pelos meus onze anos de idade comecei a ajudar na loja em época de natal, fazendo os pacotes de presente. Certa vez embrulhando uma calcinha, cortei o excesso de papel e junto dele, um pedaço da mercadoria. Meu pai ficou furioso, ele exigia sempre muita atenção e não queria saber de desperdício. "Ai" de quem tirasse fita durex para brincar.
Quando tinha a Missa do Galo, a loja permanecia aberta até tarde, pois o pessoal aproveitava para comprar seus presentes antes de ir para a missa.
Em minha época de estudante, quando retornava a Encantado para passar as férias, sempre ajudava na loja.
Com o passar dos anos, "Seu Reinoldo" passou a ser o "nosso pai". Se deligando dos negócios, seu coração também passou a ficar mais "mole", podendo dedicar mais tempo a família.

Rejane Bertozzi

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