Desde a juventude, quando ainda usava calças curtas, e ia às compras de calçados, acompanhado de meu pai, foi ficando marcado em meu pensamento a figura do Seu Reinoldo, nas vezes que chegávamos à Loja Bertozzi para comprar sapatos acredito que no lugar onde funciona hoje a loja Maçã Verde, mas com certeza lembro que meu pai e eu íamos comprar calçados naquela loja.
A história que fica somente no pensamento, muitas vezes perde-se na poeira do tempo e, quando se vai atras dela, muitos fragmentos ficam totalmente soterrados para sempre. Até por esse motivo, cabe com maior desejo e vontade relatá-los, para que então, fiquem arquivados no grande livro da vida.
Aquele ir com meu pai à loja de calçados do Reinoldo Bertozzi, transmitia prazer, uma alegria muito grande.Mais tarde, quando com mais idade negociava por mim mesmo,e, sempre, indubitavelmente, comparecia na loja do Reinoldo. Por sinal, o pioneiro neste ramo de comércio em nossa cidade. Se não me falha a memória, em uma determinada época, houve uma sociedade com seu irmão Vivaldino Bertozzi e o nome da firma: Comercial de Calçados Encantadense Ltda.
Lá eu ia negociar com o circunspecto e sensato dono da loja, apesar de encontrá-lo sempre muito sobrecarregado de trabalho, tinha um jeito desprendido de negociar, mesmo que fosse um simples par de sapatos.Tinha na sua visão a vontade inquebrantável de progredir, ter sucesso no empreendimento que havia sonhado.
Entendo que foi neste rumo que surgiu seu sucesso nesse ramo de comércio, calçando esse destino que caminhou com as pedras da honestidade, do trabalho, da seriedade.
Um episódio eu fixei em minha mente, agora trazendo nestas linhas, mais e mais determinando meu conceito do Reinoldo Bertozzi focado como título: um homem de firmeza de caráter. Em Encantado, a potência financeira e econômica era a empresa gerenciada pela família Cé. As instalações da concessionária Ford, uma das maiores do Estado, ocupava parte das ruas Padre Anchieta, na parte do morro da igreja e a Rua Júlio de Castilhos. Em meio as instalações da Ford, de Guido Cé, na principal rua da cidade, lá estava, esprimida, tanto do lado direito como do lado esquerdo, a loja de calçados de Reinoldo Bertozzi, e isso para os detentores do poder político e econômico da cidade, era um fato abominável que deveria ser extirpado a qualquer preço.
Entretanto, seu Reinoldo que tinha sonhado com seu comércio de calçados com tenacidade, obstinação, decência e firmezam, não aceitou nenhuma das propostas para a venda daquele prédio que até hoje representa um exemplo de firmeza de caráter, pois na vida existem coisas que não se compra e nem se vende.
Na história da vida de cada ser humano, certos acontecimentos são carregados de mágoa, tristeza e amargura. Reinoldo não escapou de sentir as dores originadas do acaso, da perda de um ente-querido. Acompanhei, como conselheiro do Reinoldo, quando da perda do filho Norberto em um acidente de trânsito, na flor da idade. Ainda lembro bem: o acidente ocorreu na antiga ponte que liga as cidades de Arroio do Meio e Lajeado, mais precisamente na ponte de ferro.
Sofri junto com Reinoldo a sensação da dor, da tristeza, do desgosto, da amargura e do seu pesar, mas aí manifestou-se sua força inquebrantável em acreditar na vida.
Aos poucos, Reinoldo entendeu bem Deus, às vezes, submete o homem de bem aceitar ou não uma provação por Ele ordenada. Alquebrado pela dor, não sucumbiu com ela. Suportou, meditou, encarou a verdade da vida e partiu para continuar a realidade de seu comércio de calçados.
Dessa sua pertinaz, obstinada e firme disposição de trabalho, com vontade indomável de vencer, conseguiu ultrapassar todos os obstáculos enfrentados. É certo que por essa forma de conduzir seu negócio, deu parte para o surgimento de uma empresa grandemente vitoriosa, agora capitaneada por seus descendentes.
Há alguns anos, quando passeava acompanhado por sua dama de companhia, gostava de uma conversa e trazia para a discussão assuntos antigos e atuais. Também algumas vezes, acompanhavam estas conversas o Guerino Sangalli, Bertholdo Dewes, Reinaldo Ferri e outros, que agora não recordo.
Não esqueço de algumas palavras por ele pronunciadas com convicção, durante aquelas pequenas reuniões, e me dá certeza do meu pensamento: "O homem que assim passou pela vida, não morre, somente dela se despede" pois, permanecerão seus exemplos, suas batalhas, seu trabalho e seu modo de encarar a vida.
Pedro Braz Rosa Da Silveira (amigo e escritor)
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