27 de julho de 2009

Um homem de visão

Conheci o senhor Reinoldo Bertozzi em dezembro de 1951, quando comecei a trabalhar na Cooperativa dos Suinocultores de Encantado ( Cosuel), como mandalete, eu então com 16 anos de idade.
A partir de aí fui freguês da loja de calçados Bertozzi, que ficava exprimida entre três paredes da Agência Ford (laterais e fundos), fazendos eventuais compras de calçados, camisas e até casacos, conforme os meus modestos recursos financeiros permitiam.
Pode-se afirmar que hoje aquela loja tornou-se uma potência no ramo de calçados e vestuário na cidade de Encantado.
Era a melhor loja do ramo, para não dizer a única na cidade de Encantado. Naqueles tempos, Reinoldo Bertozzi profetizava: comprem calçados de couro, porque ainda vão usar sapatos feitos de plástico e tecido.
Reinoldo era um homem de visão comercial, pois sua loja foi a primeira na cidade de Encantado a possuir vitrina, onde eram expostas mercadorias da época, tornando-se motivo de atração os manequins que eram vestidos com roupas modernas.
Passaram-se três anos e em 1954 formei-me como técnico em contabilidade, na escola técnica de comércio Madre Margarida, então existente.
Em 1963, tendo assumido como funcionário do Banco do Brasil, agência situada quase defronte a loja Bertozzi, nas horas vagas exerci a função de contabilista de fato da loja de calçados. Estava impedido de assinar o balanço e quem o assinava era minha esposa Altahyr, que fora minha aluna na já mencionada escola e ex funcionária da referida loja...
Em outubro de 1966 deixei de ser funcionário do Banco do Brasil e assumi no Estado, como fiscal de tributos estaduais. Nessa oportunidade, a responsabilidade da contabilidade passou para o senhor Antônio Lorenzi, que também fora meu aluno na Escola Técnica e era funcionário do Banco do Brasil, e que posteriormente foi Deputado Estadual.
Recordo-me de um presente que Reinoldo, em 1966, me proporcionou ao deixar de ser o contabilista da firma. Presenteou-me com uma pasta, tipo executivo, de couro de jacaré, que ainda hoje possuo guardada.
Reinoldo Bertozzi, embora nunca tenha militado na política de Encantado, sempre estava a par dos fatos marcantes da comunidade. Reunia-se com amigos e os comentava muitas vezes durante sua caminhada matinal que realizava todos os dias.
Era um verdadeiro arquivo ambulante, porque guardava em sua memória todos os episódios que diziam respeito a Encantado e os comentava com uma lucidez extraordinária até o final de sua vida, mencionando nomes de pessoas, datas em que os fatos haviam ocorrido e sua repercussão na comunidade encantadense.
Nas ocasiões em que eu fazia alguma referência a respeito de Reinoldo Bertozzi sempre dizia que Encantado estava perdendo oportunidade de recuperar, ou melhor, deixar escrito ou gravado, de forma a ser aproveitado no futuro, todos os conhecimentos que Reinoldo possuía.
Cheguei a sugerir que lhe fosse conectado um gravador e que se o deixasse fazer os seus comentários e extrair da gravação o que dizia a respeito ao desenvolvimento de Encantado. Infelizmente perdeu-se o arquivo mental de que Reinoldo era portador. Poucas pessoas tem a capacidade de manter em sua memória fatos relevantes de uma comunidade como Reinoldo possuía
Milton Horst- juíz de direito aposentado e Advogado, casado com a irmã da esposa de Reinoldo, Altahyr

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